Como sabemos tem vindo a público o drama daqueles idosos que vão morrendo sozinhos em casa sem ter alguem a quem pedir ajuda. Mais do que nunca as pessoas amontam-se comprimem-se nos prédios, nos andares, vão olhando todos os dias umas para as outras, andam no mesmo elevador, mas não se conhecem. A solidão toma cada vez mais conta da cidade.
A LINHA VERMELHA
Fui tirar-lhe a linha vermelha que tinha em cima do ombro, como uma minhoca. Sorriu e estendeu-me a mão para apanhar a minha. " Muito obrigado", disse-me, "é muito amável, donde é que você é ?"
E começamos uma conversa despreocupada, cheia de variedade e relatos exóticos, porque os dois tinhamos viajado e sofrido muito. Despedi-me passado um bocado, prometendo cumprimentá-lo da próxima vez que o visse, e se desse tomávamos um café enquanto continuávamos a conversa.
Não sei o que me levou a voltar a cabeça para trás, alguns passos adiante. Estava a colocar outra vez, cuidadosamente, o fio vermelho em cima do ombro, sem dúvida para tentar apanhar outra vítima que lhe enchesse durante alguns minutos o imenso poço da sua solidão.
Pensei que deveria penetrar no mistério de tantas pessoas que talvez não nos procurem como o senhor da linha, mas que precisam de nós. (http://www.interrogantes.net/)
O SENHOR DO ADEUS
João Manuel Serra, " O senhor do adeus " como era conhecido viveu o drama da solidão depois de perder a sua mãe.
Para combater este drama de ter que viver sozinho ia todas as noites para rua acenar aos carros e às pessoas que se cruzavam com ele. Foram muitos anos passados na zona do Saldanha a dizer adeus incansavelmente, sempre com um sorriso estampado na cara e impecavelmente vestido.
"Acenar é a minha forma de comunicar, de sentir gente"(disse ao Expresso ). " Desde que fiquei nas mãos de não ter ninguém.... estou aqui; a vida dá muitas voltas, o meu destino é acenar a quem me comprimenta. Estou sujeito a que me chamem maluco, mas não me importo. Da minha solidão sei eu" acrescentou. Morreu o ano passado com 79 anos de idade.
Como estes dois casos, hoje são milhares as pessoas que vivem o drama da solidão. Não têm absolutamente ninguém.
Ninguém se interessa por elas, que se incline para a sua humanidade e lhes dê uma parte do coração. Bem sabemos que não há maior tristeza que a de um coração incompreendido. Bem sabemos que para algumas pessoas a vida é uma dor insuportável.
Será que ainda somos capazes de penetrar no seu sofrimento, na sua solidão, estender-lhes a mão e dar-lhes uma palavra afetuosa ?
As pessoas cada vez mais vão ficando sozinhas. Quem pode ser amigo ou amiga destas pessoas ? Quem pode oferecer protecção num mundo em crise onde tudo vacila ?
Se quero amar deveras, devo dedicar-me, com solicitude profunda e autêntica, às pessoas, a todas as pessoas que me rodeiam.
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