A ordem do Rei
Era uma vez um rei que não gostava de mendigos nem de estrangeiros e por isso um dia ordenou que estes fossem expulsos do seu reino. Não suportava vê-los nas ruas.
A
partir desse dia, todos os seus súbditos deviam levar no braço um
número para serem reconhecidos como cidadãos do reino.
A
ordem cumpriu-se escrupulosamente e, em poucas semanas, tinham
acabado os estrangeiros e os mendigos.
Um
dia, o rei saiu para dar um passeio a cavalo pelo campo. Mas uma
grande tempestade surpreendeu-o e o seu cavalo espantou-se com um
trovão. Começou a correr descontrolado e o rei nada pôde fazer
para parar o animal. Chovia torrencialmente e o cavalo continuava a
correr sem parar.
Ao
chegarem a uma sebe, o cavalo saltou e o rei caiu num charco cheio de
barro ficando inconsciente.
Passou
a tempestade e veio o sol. O rei continuava deitado no chão e
inconsciente. Por casualidade, passaram por ali uns guardas seus a
patrulharem a zona. Ao vê-lo deitado no chão, foram ver o que tinha
acontecido. Estava sujo e manchado de barro. Tentaram reanimá-lo mas
não conseguiram. Para os guardas não havia dúvidas, era um mendigo
fugitivo que estava bêbado como uma pipa. Era mais que evidente.
Além do mais, era um estrangeiro, pois não levava nenhuma marca no
braço.
Levaram-no
então de rastos até à fronteira do reino e lançaram-no para
longe.
Quando
o rei acordou, não sabia onde estava. Depressa deu-se conta que não
estava no seu reino. Foi indignado à fronteira para entrar e pedir
explicações pelo acontecido. Mas os guardas, ao vê-lo chegar tão
sujo, deram-lhe uns pontapés.
Ele
insistia, protestando:
-
Eu sou o rei e o que me estais a fazer é intolerável!
Contudo,
os guardas não fizeram caso algum. Troçando dele, disseram-lhe:
-
Além de seres mendigo estrangeiro, estás louco. O nosso rei não
quer nada contigo. Sai daqui.
E
atiraram-lhe pedras. O rei começou a chorar amargamente. Tinha caído
na sua própria ratoeira. Agora, por onde quer que fosse, seria
sempre um mendigo e um estrangeiro. Um excluído da sociedade.
*
* *
Esta
história que nunca aconteceu... afinal de contas, e bem vistas as
coisas, está sempre a acontecer. Sempre que excluímos alguém,
da nossa família, do nosso grupo, dos nossos amigos, estamos a
contribuir para que, mais dia menos dia, nos aconteça algo de
semelhante também a nós.
Pois
é! Essa coisa de “não faças aos outros aquilo que não queres
que te façam a ti”... tem muito que se lhe diga, não tem?
Muito
que se lhe diga e dá que pensar, não lhe parece?
(histórias
do padre Júlio Grangeia)
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