Mas, para seu espanto, não havia fila de espera. Melhor, não havia ninguém... nem sequer para o receber. Simplesmente as portas do céu estavam abertas de par em par; e não havia ninguém a vigiá-las. Gritou para dentro, batendo com força no portão. Mas ninguém respondeu. Aventurou-se, sem saber se devia... E entrou : estava no paraíso.
Sentiu-se bem, muito bem, realmente desejoso de ali viver toda a eternidade. Continuava sem ver ninguém. Mas, de pátio em pátio, de jardim em jardim, de sala em sala, cada vez foi penetrando mais no interior do céu; até que chegou ao escritório de Deus. Também com as portas abertas de par em par. Entrou. Deus não estava. Os olhos cairam-lhe em cima de uns óculos, sobre a secretária. Eram os óculos de Deus. Não resistiu à tentação ; colocou-os e deu uma espreitadela sobre o mundo. Por aqueles óculos via-se tudo, tudo claro, tudo transparente de luz. Lá estava o seu sócio... Apurou a vista. Nesse preciso momento o seu sócio estava e enganar uma pobre mulher viúva com um penhor que acabaria por a afundar na miséria pelos séculos dos séculos...
Então, nascido não sabia donde, um profundo desejo de justiça brotou do seu coração e tão forte era que, sem o pensar segunda vez, pegou no banquito que estava por debaixo da secretária e atirou-o fulminantemente sobre o seu sócio, matando-o logo ali.
Nesse momento ouviram-se vozes no céu. Mas era apenas Deus que chegava, com os arcanjos, os anjos os santos as virgens... , de uma saída matinal. Transbordavam a alegria celestial.
O nosso amigo sobressaltou-se. Tentou esconder-se, mas quem se esconde de Deus ? Porém Deus não estava irritado. Estava de bom humor, como sempre. Apenas lhe perguntou o que é que ele tinha feito.
Ele lá explicou que as portas estavam todas abertas, que tinha sido levado pela curiosidade...
Mas Deus interompeu-o :
---Não é isso. Eu quero saber é o que é que fizeste ao banquito onde costumo descansar os meus pés...
Reconfortado por aquela misericórdia divina diante da sua ousadia, contou então que tinha entrado no escritório e que tinha colocado os óculos, que tinha dado uma olhadela ao mundo, que pedia perdão do atrevimento...
Mas Deus insistia :
- Tudo bem. Não há nada que perdoar. Tomara eu que todos os homens vissem o mundo com os meus olhos ! O que eu quero é saber onde está o banquito no qual costumo descansar os pés.
Agora, sim, sentia-se totalmente à vontade. E então contou a Deus a cena do seu sócio, a tremenda injustiça que ele estava para fazer, o enorme desejo de justiça que lhe subiu à alma, e como, sem pensar duas vezes, lhe tinha arremessado o banquito em cheio.
- Ah, não ! - disse-lhe Deus. Aí estás enganado. Tu não percebeste o principal : não percebeste que para usar os meus óculos... tinhas que ter o meu coração ! Imagina se eu, de cada vez que vejo uma injustiça na terra, disparasse bancos na cabeça de quem a comete..., onde é que ainda havia homens e mulheres no mundo ?!
Não, meu filho. Não. É preciso ter muito cuidado em usar os meus óculos se não se está seguro de ter também o meu coração. Só tem direito a julgar o que tem o poder de salvar.
(adaptado de Mamerto Menapace, in www.buenasnuevas.com
(CONTINUA)
(CONTINUA)
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